Veleiro Fraternidade chega em Gjoa Haven, ápice da travessia da Passagem Noroeste.

Atualizado: 12 de set. de 2022

Veleiro Fraternidade Passagem Noroeste. ALEIXO BELOV — Veleiro Fraternidade Passagem Noroeste.

JORNAL ESTÂNCIA DE ATIBAIA

O Veleiro Fraternidade comandado pelo navegador Aleixo Belov zarpou de Salvador, Bahia no início de fevereiro com o objetivo de fazer o feto inédito da navegação brasileira: a Passagem Noroeste.

Para isso contou com uma tripulação formada pelo mestre de convés Osvaldino Dórea, o fotógrafo de Atibaia Leonardo Papini, a oceanógrafa Larissa Nabuco, o mecânico Hermann Brinker, o navegador Igor Stelli e sua esposa Ialda Stelli, o médico Fabio Tozzi e a estudante Ellen Cris. Ao longo de 4 meses o veleiro navegou pelo Oceano Atlântico, pelo Mar do Caribe, atravessou o Canal do Panamá até chegar ao Oceano Pacífico, depois pelas ilhas Havaianas até enfim chegar ao frio do Alaska, na cidade de Nome.

Depois de esperar cerca de um mês que o mar adjacente descongelasse, o Fraternidade avançou cruzando o Estreito de Bering, local onde se inicia a Passagem Noroeste. ''Foi uma travessia bem complicada, tinha muita neblina e muito gelo no caminho o que dificultava a navegação. Tivemos que ancorar em blocos de gelo e ficar à deriva dias inteiros esperando as condições melhorarem. Lutamos bastante para encontrar o caminho que permitisse passar no meio daquele labirinto de gelo'' relata o fotógrafo Leonardo Papini.

Ao longo de 6 meses e um pouco mais de 13 mil milhas navegadas, a oceanógrafa Larissa Nabuco comenta ''Para mim está sendo uma experiência surreal. Essa foi a primeira vez que entrei em um veleiro, não sabia nada. Hoje estou navegando em um dos oceanos mais inóspitos e desconhecidos que até então só tinha visto em livros.

O conhecimento que estou adquirindo na prática é inimaginável, pude observar de perto as diferenças entre os oceanos, a sua interação com o vento, as correntes e fenômenos físicos como a Fata Morgana, além de diversos animais característicos dessa região como as morsas''.

Após passar por Cambridge Bay, o veleiro chega ao ápice da sua viagem, o assentamento inuit Gjoa Haven, localizado no território de Nunavut, Canadá. O nome em inglês para este lugar homenageia o explorador Roald Amundsen que invernou e viveu como os nativos aqui com seu navio Gjoa. Ele chamou este lugar de ''o melhor pequeno porto do mundo''. Em 1906 ele foi o primeiro explorador europeu a transitar pela Passagem Noroeste. A expedição de John Ross de 1829-1833 já havia visitado esta região e a fracassada expedição de John Franklin de 1845 pereceu nas proximidades.

Pela primeira vez uma embarcação de bandeira Brasileira se aventura nas águas frias do Oceano Ártico com objetivo de cumprir a Passagem Noroeste. ''Estamos no que corresponde a metade da travessia. A primeira parte não foi fácil, mas isto já passou. O passado sempre é fácil, o difícil é o que está pela frente. Tenho muita vontade de concluir esta viagem, de conseguir trazer o barco e a tripulação inteiros e com saúde de volta a Salvador, este é o sonho.

ALEIXO BELOV — Aleixo Belov ao lado da estátua de Roald Amundsen, em Gjoa Haven.

Agora mesmo o vento está soprando com 38 nós e o gelo fechando a passagem estreita e rasa a 60 milhas daqui. Podemos esperar o bom tempo chegar mas o problema é que o verão está acabando e em breve o gelo vai aumentar, isso nos preocupa. É uma dúvida, um sofrimento e uma indecisão eterna se devemos avançar mesmo em condições difíceis ou se esperamos a condição melhorar. É fácil tomar uma decisão, o dificil é tomar a decisão correta. Temos que sair do Oceano Ártico de preferência até meados de setembro, depois promete complicar ainda mais.'' desabafa o comandante Aleixo Belov.